A jornada empreendedora Israel-Brasil

Liane Gotlib Zaidler – Para a Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria

beny2Responsável por desenvolver o plano de entrada no mercado norte-americano para startups israelenses, Beny Rubinstein é Presidente e CEO da Acelera Partners e membro do Conselho Administrativo da Aceleratech. Foi Chief Marketing Officer (CMO) para Cloud & Enterprise na subsidiária americana da Microsoft Corporation e liderou a área de desenvolvimento de novos negócios e alianças estratégicas globais para a Microsoft Cloud.

Ele também foi o criador do modelo internacional do Microsoft Research para a incubação de novas tecnologias na área de Saúde e lançou o Microsoft HealthVault no mercado britânico, tendo recebido o “Gold Star Award”, dois prêmios de Inovação na Microsoft Worldwide Partner Conference 2012 e o Performance Excellence Award (concedido a 3% dos funcionários a nível mundial).

Confira sua entrevista para a newsletter da Câmara Brasil-Israel na qual destaca a Jornada Empreendedora entre Brasil e Israel:

Conte-me sobre sua trajetória como empreendedor

Minha jornada empreendedora começou nos anos 1980 quando fui apresentado à Robótica e outras tecnologias avançadas no Instituto de Tecnologia ORT no Rio de Janeiro. Durante uma exibição de água/irrigação no Copacabana Palace, pensei: se uma startup israelense – Netafim – pode solucionar grandes problemas para a região nordeste do Brasil com suas técnicas de irrigação inovadoras, quão grande seria um impacto se otimizássemos a maneira como “ligamos os pontos”?

Quais as diferenças e semelhanças entre Brasil e Israel e como as economias podem se complementar? 

Israel e Brasil são semelhantes em diversas maneiras e diferentes em muitas outras. Há muito potencial para um shiduch (casamento) entre essas duas poderosas nações: Israel com a riqueza em tecnologia e inovação e o Brasil: rico em recursos naturais e ávido por soluções para seus desafios.

Quando e como o senhor começou a empreender no Brasil?

Depois de 15 anos nos EUA e em Israel, trazendo tecnologias disruptivas da Microsoft Research para os mercados internacionais, finalmente decidi começar um empreendimento no Brasil. Com parceiros estratégicos e investidores tais como Microsoft, Qualcomm, AgeRio, e TOTVS Ventures, começamos em 2014 a investir em startups de tecnologia iniciantes no Brasil e ajudá-las a alcançar uma escala global. O pensamento da minha infância voltou à minha mente: podemos avançar na agenda do desenvolvimento econômico tanto para o Brasil quanto para nossa pátria judaica se conectarmos o ecossistema (e corporações) empreendedor brasileiro aos empreendedores israelenses mais brilhantes e apresentar soluções reais israelenses aos problemas brasileiros.

Como se estabeleceu a colaboração entre Brasil e Israel? 

Em junho de 2015 me reuni com oito CEOs de startups israelenses que participaram de um programa de aceleração no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Microsoft em Herzlyia e ofereci um capital semente sob uma condição: usar o Brasil como “laboratório” para inovação e empreendimento.  A colaboração estabelecida entre os empreendedores brasileiros e parceiros estratégicos como o Bing R&D e o Laboratório Avançado de tecnologia e pesquisa da Microsoft no Rio de Janeiro tem sido enriquecedora com a estratégia de entrada de grande companhias e empresas israelenses no grande mercado brasileiro com relevância local. Inversamente, cientistas e empreendedores brasileiros ganham insights reais de israelenses que pensam globalmente na falta de um mercado doméstico substancial e que têm a chutzpah (audácia) de lidar com adversidade e transformar desafios em oportunidades.

Durante esta “jornada empreendedora”, quais foram os principais desafios encontrados e como foram superados?

Como é comum na maioria das iniciativas inovadoras, não há poucos obstáculos a serem ultrapassados. Assim, a chave é a resiliência. Primeiro, temos que ser criativos para enfrentarmos os desafios a fim de estruturar os investimentos estrangeiros para uma empresa brasileira de um modo kasher (limpo, puro) e eficiente. Daí, era necessário convencer o gerente geral da aceleradora Microsoft Ventures em Israel que nós éramos investidores/parceiros estratégicos e que seria algo “amigável-empreendedoramente”, que seria algo prático e agregaria valor às empresas ao invés de se tornar um problema como alguns outros investidores. Finalmente nós tivemos que vencer o gap cultural e adaptar nossos termos às convenções israelenses e foi uma experiência educativa. Mas, o mais importante, uma vez que o negócio tenha sido fechado, o maior desafio foi descobrir maneiras de trabalhar de forma colaborativa apesar da distância física e construir um modelo para desenvolver parcerias no Brasil para ajudar ainda mais sua expansão – incluindo os setores público e privado.

Em Israel a figura do empreendedor é muito forte. Como podemos aproveitar os recursos e informações que Israel tem a oferecer?

Não há falta de problemas para as “cidades inteligentes”. Transporte, saúde, segurança pública, a lista é longa (sem mencionar a infraestrutura). Por meio de parcerias estratégicas com organizações de ponta como Microsoft Accelerators, Technion, Universidade de Tel Aviv, e top VCs é possível trocar ideias, melhores práticas e compartilhar histórias de sucesso e fracasso. Mais relevante ainda é importante conectar as pessoas e transferir conhecimento entre as duas nações. Entidades como a Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria e a Missão Econômica do Ministério da Economia no Brasil podem ser grandes facilitadores no processo.

Poderia nos dar um exemplo de algum investidor israelense que apostou no Brasil?

Ofir Schlam, co-fundador e CEO da Taranis, é um deles. Dois meses depois de assinarmos os termos do contrato, Ofir chegou ao Brasil. Com uma solução analítica preditiva que permitia aos fazendeiros mitigar e responder à ameaças climáticas e de pragas da colheita, ele está ajudando uma fazenda na Bahia a atingir uma maior produção e mais lucro. Esta parceria tem potencial para melhorar as vidas de milhões de brasileiros e fazer com que o Brasil esteja mais perto de ser um dos top 5 ecossistemas de startups no mundo. A jornada empreendedora Brasil-Israel está funcionando!

O Brasil está passando por uma grave crise política e econômica. Se o senhor pudesse dar uma dica aos empresários e empreendedores brasileiros qual seria?

Não foque na crise e nos problemas. Não gaste muito tempo vendo as notícias. Os empreendedores de maior sucesso veem oportunidades em todos os lugares e na realidade nunca houve um tempo mais favorável para ser empreendedor do que em tempos de crise – quando as corporações precisam cortar orçamentos e achar soluções para custos mais eficientes aos seus desafios, e quando a mão de obra é demitida e está interessada em ajudar startups e quando investidores realmente precisam de um portfólio de projetos para investir. Também – trabalhe com o governo e pense no que você tem a oferecer a ele – não somente o que eles podem dar a você. Às vezes eles podem combinar melhor sendo parceiros do que investidores. Se você conseguir se beneficiar de alguns recursos que eles têm a oferecer – ótimo. Só não construa um modelo de negócios que dependa deles.

Algo que gostaria de acrescentar?

De todas as habilidades que um empreendedor precisa desenvolver, foque numa mentalidade ganha-ganha que venha da empatia. Entenda seu consumidor, seu parceiro, seu investidor, em quem você investe. O que os mantém acordados à noite? O que os motiva? O que os assusta? Se você conseguir ler entre linhas e tiver inteligência emocional, suas outras habilidades serão capazes de gerar muito mais resultados com menos esforço. No ecossistema das startups, ganhos a curto prazo são rapidamente tomados por uma sustentabilidade a longo prazo. A velha mentalidade brasileira feudal de trabalhar em silos não leva ao sucesso no mundo empreendedor; enquanto é ok manter alguns elementos estratégicos secretos (da sua estratégia) por um tempo, é mais importante sair de lá, construir relacionamentos a longo prazo, trocar ideias e experiências e compartilhar riscos e retornos. Co-investimentos e outras formas de parceiras já foram provados ter mais sucesso para criar valor do que acordos exclusivos e uma mentalidade “o ganhador leva tudo” não é aplicável num imenso universo de oportunidades (e desafios) do mundo empreendedor. Compartilhe sua visão, ajude seu parceiro, colabore – e o ecossistema vence.