Brasil entra na mira de empresas israelenses especializadas em soluções hídricas

Há cerca de 250 indústrias da água em Israel, em busca de mercado.

A crise hídrica paulista entrou no radar da indústria da água de Israel. Com incentivos do governo tanto na área de pesquisa como na incubação de start-ups, Israel tenta se consolidar como uma espécie de Vale do Silício das soluções hídricas.

“Cada vez mais crianças querem aprender sobre a indústria da água. Também há novas matérias surgindo nas universidades e mais gente estudando engenharia hidráulica”, diz Adi Yefet, diretora do Israel NewTech, programa criado pelo Ministério da Economia para fortalecer o setor dentro e fora do país.

Em um país com 8 milhões de habitantes, falta mercado para as cerca de 250 empresas de tecnologia da água, que veem grandes oportunidades de negócios nos problemas hídricos enfrentados por gigantes como China, Índia e Brasil. Hoje, as exportações do setor chegam a R$ 2 bilhões por ano.

O cônsul para assuntos econômicos de Israel em São Paulo, Boaz Albaranes, acredita que a crise hídrica paulista deve engordar a delegação de brasileiros na feira do setor promovida pelo país em outubro, a Watec.

Entre os convidados estão o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, e membros do consórcio da bacia dos rios PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí), que alimentam o sistema Cantareira.

Entre as companhias que estarão no evento, um dos principais focos é a redução de perdas, problema bastante comum devido à idade dos encanamentos das grandes cidades do mundo.

Na cidade de São Paulo, cerca de 20% dos canos têm mais de 40 anos, e a rede tem, em média, 33 anos.

Os vazamentos causam desperdício de 19,5% da água, quase o dobro do índice israelense, de 10%.

A empresa Curapipe, por exemplo, criou uma cola não tóxica para tapar vazamentos em encanamentos. Assim que passa por um buraco, a substância entra em contato com o ar e se solidifica.

O produto substitui a troca de encanamento, cujo custo pode chegar a US$ 1 milhão (R$ 3,1 milhões) por quilômetro. Mesmo assim, a estimativa da empresa é que o Estado de São Paulo teria de gastar US$ 1,2 bilhão (R$ 3,7 bilhões) no produto para acabar com os vazamentos.

Já a Aquarius-Spectrum desenvolveu um sensor acústico que, acoplado aos hidrantes, capta vazamentos em um raio de 300 metros.

A irrigação por gotejamento, desenvolvida pelos israelenses, já chegou ao Brasil. Ao contrário da irrigação por sprinklers e inundação, comuns por aqui, o método direciona a água para a planta.

Surgida em um kibutz, a Netafim virou uma gigante do ramo, com presença em vários países, inclusive o Brasil.

O diretor de sustentabilidade da empresa, Nat Baraky, 71, está na Netafim desde o início, na década de 1960.

“Naquela época, tentando plantar no deserto, sofríamos uma falha após a outra”, conta. Segundo Baraky, a técnica de gotejamento mudou tudo isso.

Fonte: Folha de S. Paulo