Comércio com Israel cai 18% no ano, mas conflito em Gaza não afeta desempenho

O ruído entre as diplomacias de Brasil e Israel no mês passado e o conflito na faixa de Gaza não afetaram o comércio brasileiro com os israelenses. Apesar da boa notícia, os dados de julho estão em linha com a corrente de comércio do ano, que registra queda de 18% depois de crescer 9% ano passado. Troca de fornecedores por parte de Israel, desaceleração do consumo interno brasileiro e recuo da produção industrial estão entre as principais causas do esfriamento do comércio bilateral.

De janeiro a julho, as exportações a Israel recuaram um quarto em relação a 2013, enquanto as importações retrocederam 21%. De acordo com analistas, os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que o conflito entre israelenses e palestinos, condenado pelo Brasil, teve pouca influência no fluxo de comércio entre os países. O resultado das exportações brasileiras, que ficaram em US$ 217 milhões, se deve à retração da demanda israelense por açúcar e carne bovina, os dois produtos mais requisitados dos brasileiros. As exportações à Palestina são bem menores e estão em US$ 15 milhões neste ano, igual valor de 2013, o que sugere influência quase nula do conflito nas trocas.

O aumento de produção de açúcar na Índia e a queda do preço do produto no mercado internacional explicam o recuo de 27% nos embarques de açúcar à Israel, que não passaram de US$ 52 milhões. Analistas acreditam que pode ter ocorrido troca de fornecedor, já que há custos menores com o frete do produto indiano. A venda de carne bovina, que se retraiu em 45% e não passou de US$ 32 milhões, pode ser atribuída a uma flutuação normal de um mercado que não é considerado como prioritário pela indústria brasileira, por causa do tamanho, como é o russo, o chinês ou o venezuelano.

Para Rodrigo Branco, economista e pesquisador da Uerj, o aumento do preço da carne no mercado internacional também pode ter influenciado os israelenses a buscarem outros fornecedores, mais próximos. “Como o volume dessas vendas não é tão substancial, o comércio fica mais suscetível a choques de preços e oscila mais”, diz.

Um possível impacto do conflito entre Israel e Palestina no comércio bilateral se traduziria em maior dificuldade de realização de comércio nos portos israelenses, com o consequente aumento do preço do seguro dos fretes e do tempo de embarque e desembarque das mercadorias. Mas esse é um movimento que, se acontecer, não será sentido agora.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), não vê impactos significativos. “Guerra sempre provoca algum incômodo. O armador, que é a pessoa que faz o frete, evita correr riscos. O maior problema pode ser o atracamento de navios, mas aparentemente não foi registrado qualquer incidente nas regiões portuárias”, afirma.

A Câmara de Comércio Brasil-Israel diz que o comércio entre os países vinha crescendo nos últimos anos, impulsionado pelo acordo com o Mercosul, e que as relações empresariais não foram afetadas pela instabilidade na região. Jayme Blay, presidente da Câmara, afirma que o mercado israelense é atraente pela sua renda per capta, maior do que a da União Europeia (UE). “Não é um mercado tão grande, mas é qualificado, e o empresário é antes de tudo um homem pragmático”, diz.

Blay diz que houve incremento nas trocas desde que o acordo com os sul-americanos passou a vigorar, em 2010. Naquele ano, o comércio atingiu US$ 1,3 bilhão. Ano passado ela foi de US$ 1,6 bilhão. A Câmara acredita que pode-se chegar a US$ 3 bilhões.

O presidente da Câmara ainda cita como empecilho à corrente de comércio a extinção no fim de 2011 do voo direto entre São Paulo e Tel Aviv oferecido por uma companhia aérea israelense. “Era muito mais prático para o contato entre os empresários. Acho que falta um pouco de agressividade ao exportador brasileiro, assim como um pouco de comodismo dos importadores israelenses em buscar outros produtos”, diz.

FONTE: VALOR