Como tecnologia e educação ajudaram a resolver a falta de água em Israel

TUBOS LEVAM ÁGUA DO MAR MEDITERRÂNEO PARA A PLANTA DA ASHKELON SEAWATER REVERSE OSMOSIS, QUE FAZ O PROCESSO DE DESALINIZAÇÃO EM ISRAEL (FOTO: SHUTTERSTOCK)

A busca de soluções para a escassez de água em várias regiões do planeta inclui o aprendizado das antigas culturas à tecnologia de ponta. Em Israel, um país cujo território é formado em 60% por áreas desérticas, a água é suficiente para suprir as necessidades da população e ainda abastecer diariamente os países vizinhos, como Jordânia e Palestina.

E como Israel conseguiu essa façanha? É o que o advogado, ativista e empreendedor americano Seth M. Seigel conta em seu livro Faça-se a água. Ele ilustra como o Estado de Israel pode servir de exemplo para outros países, expondo as metodologias usadas para chegar à excelência da economia de água.

No seminário “Crise da Água: o que o mundo pode fazer para evitá-la?”, promovido pela Fundação FHC, Seigel que está no Brasil para o lançamento do seu livro, falou sobre o crescente desequilíbrio entre a demanda e a oferta de água no mundo. E também sobre soluções econômicas, sociais e ambientalmente sustentáveis utilizadas para resolver situações de estresse hídrico se baseando nas estratégias usadas por Israel para contornar o problema.

Segundo o ativista americano, a abordagem de Israel se sustentou em três pilares: educação, tecnologia e política. “Ninguém é super-herói em Israel, podemos fazer como eles”, disse o americano.

Seigel diz que os israelenses utilizam a água de maneira consciente. “Foi feito um trabalho de conscientização da população, ninguém utiliza a água sem pensar nas consequências”, contou.

A água consumida pelo povo israelense vem em sua grande parte do processo de dessalinização. Apesar de ser uma alternativa de valor mais alto, o governo fez essa escolha pelo acesso mais próximo ao mar. O sistema de tratamento deu tão certo que o consumo de água mineral é baixíssimo. “As pessoas confiam na limpeza da água, por isso tomam água da torneira mesmo”, explicou.

A relação entre o governo e a água é um ponto importante na opinião do advogado. “Nos países onde existe boa governança, o problema da água está praticamente controlado”, afirma. Em 1959, Israel aprovou a Lei da Água para assegurar o abastecimento da população. Entre outras questões, o Estado estabeleceu que o dono da terra não é o dono da água, ela pertence ao governo. A precificação da água e o valor arrecadado são aplicados na melhoria da infraestrutura hídrica e rede de abastecimento.

A tecnologia tem um papel central nessa jornada. Segundo o escritor, que foi a Israel para ver de perto o que tem sido desenvolvido, existem algumas inovações que contribuíram muito para chegar nesse momento.

Uma delas foi reutilização da água do esgoto para uso na agricultura. “Quando a infraestrutura hídrica foi desenvolvida, apesar de a água reutilizada ser própria para o consumo, a população não queria beber, então a opção foi utilizar na agricultura”, explicou o advogado. Falando sobre o Brasil, ele apontou que a falta de saneamento básico é um dos maiores problemas do país. Segundo ele, cerca 40% dos resíduos não são tratados e cerca de 10% nem sequer são coletados.

O sistema de irrigação por gotejamento é outra inovação importante. A agricultura é uma das atividades que mais consome água e encontrar uma maneira que permita ao agricultor irrigar sua plantação e distribuir os elementos nutritivos de uma maneira uniforme e eficiente, foi revolucionário.

Em sua palestra, Seth M. Seigel disse que mesmo em áreas mais desenvolvidas do país, como São Paulo, ainda há muito a fazer. “A Sabesp é uma das maiores companhias do setor [responsável pela concessão dos serviços públicos de saneamento básico no Estado de São Paulo] e poderia fazer um trabalho muito melhor, apesar de ser notável o que eles fazem”, apontou.

Comparando a utilização de recursos nos dois países, Seigel citou a utilização de algoritmos para conter vazamentos. “Em São Paulo, um terço da água tratada é utilizada”, disse. Segundo ele, em Israel a água é monitorada e a tecnologia contribui para descobrir onde está o vazamento.

Fonte: Época Negócios