Datora vai instalar no país rede dedicada à internet das coisas

 

O mercado crescente e bilionário de comunicação entre máquinas (M2M) sem interferência humana e de internet das coisas (IoT) está catalisando o interesse de empresas que veem a possibilidade de abocanhar uma fatia do negócio. A operadora Datora Telecom vai implantar no Brasil, neste ano, a primeira rede pública sem fio exclusivamente para o segmento, a Machine Network. Para isso, assinou um contrato com a americana Ingenu, dona da tecnologia.

A Datora ainda não divulgou seus resultados de 2016. A previsão é que tenha faturado entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões, segundo sua diretoria. Tem licença de agregadora de rede móvel virtual (MVNA, na sigla em inglês) e de operadora (MVNO), dedicada a M2M e IoT. Até agora, oferece o serviço por meio da rede da TIM Brasil, com 800 mil sensores de clientes se comunicando. Mas a comunicação entre objetos não requer muita velocidade, como a da rede celular. Outra alternativa seria um link de satélite, porém é mais caro. Além disso, os equipamentos gastam muita energia e precisam de bateria, diz Daniel Tibor Fuchs, diretor de inovação da Datora.

A British Telecom e a britânica Vodafone são MVNOs da unidade Datora Mobile. Em 2013, a Datora Mobile passou a ser denominada Vodafone Brasil, portanto a marca que vai construir a nova rede. Mas, segundo Fuchs, a Vodafone não tem participação acionária na Datora.

No relatório financeiro de 2016, o grupo Vodafone declarou possuir 38 milhões de conexões globais de IoT, 37% a mais do que um ano antes.

Segundo Fuchs, “a tecnologia de rede da Ingenu é a primeira opção de baixo consumo energético, permitindo comunicação bidirecional ao mesmo tempo que apresenta uma relação custo/benefício interessante para M2M e IoT”. Não é preciso comprar espectro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), pois usa uma faixa não licenciada; basta alugar espaço em telhados ou torres de empresas especializadas, de energia ou ainda de emissoras de FM, para instalar os equipamentos que vão receber os sinais dos sensores dos clientes e/ou mandar comandos para esses dispositivos.

A tecnologia usa apenas antena e rádio (semelhante a uma estação radiobase das operadoras móveis). Os dados coletados são transmitidos para uma plataforma central da Datora na nuvem – servidores que recebem os dados e redirecionam aos seus destinos, como se fossem mensagens de internet. A conexão entre o ponto de acesso e a nuvem Datora é mais simples que as usadas pelas operadoras móveis, podendo ser por fibra óptica, rádio ou satélite. Nesse trecho, o satélite não sai caro porque não haverá uma conexão para cada objeto, e sim para 10 mil ou 20 mil dispositivos, disse o executivo.

O sensor é a parte mais cara do processo pelo próprio cliente. Já o modem, que vai integrado o sistema de M2M/IoT, custa hoje cerca de US$ 20 no exterior e a expectativa de Fuchs é que o valor caia para cerca de US$ 5 nos próximos anos.

Conhecida pela sigla RPMA (Random Phase Multiple Access), a tecnologia ficou concentrada inicialmente nos EUA, onde foi implantada pela Ingenu; seguiu depois, por meio de parceiros, para a Europa, China e África. A empresa americana licencia apenas um parceiro por país. No Brasil, a rede começa a ser implantada no segundo trimestre, com alguns serviços em teste no fim do ano e conclusão no encerramento de 2018.

A instalação começa em Minas Gerais, pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig), responsável pelo desenvolvimento econômico do Estado e acionista da Datora Mobile. Fuchs disse que já tem acordos com empresas privadas, fazendeiro e companhia de linha de transmissão de eletricidade. Pelo método tradicional, as empresas precisam enviar helicópteros com técnicos para sobrevoar as linhas de transmissão e ver a integridade dos cabos. Com a nova rede, câmeras de infravermelho para detecção de falhas – que já existem, mas não têm conexão – são usadas como sensores que transmitem os dados para o sistema. “Diminui o custo, o risco do trabalhador e aumenta a eficiência”, disse o executivo.

Vida selvagem, rios, qualidade da água e boias que monitoram hidrelétricas são alguns dos mercados potenciais e inexplorados por M2M e IoT, disse Fuchs. Nas florestas, dispositivos poderão monitorar desmatamento e fronteiras, transmitindo os dados e imagens diretamente para centros de controle. Nas fazendas, o executivo já imagina uma nova versão do chip (ou brinco) do boi. Hoje, esses chips colhem informações, mas os animais precisam ser levados aos pórticos de leitura para a coleta dos dados. “Isso deixa o animal estressado e ele até perde peso”, diz Fuchs. Com a tecnologia RPMA, os dados serão enviados automaticamente, de onde o animal estiver.

Com mais de 220 milhões de cabeças de gado bovino no Brasil, Fuchs disse que se conquistar 2% do rebanho – 4,4 milhões de animais-, já será um bom negócio.

O executivo não informa quanto a empresa está investindo na rede, diz apenas que são “milhões de dólares”. O preço da conectividade está em planejamento.

Lourenço Coelho, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel), disse que as operadoras em todo o mundo estão estudando novas opções de rede, enquanto organizações buscam padronizar os protocolos. Ele reconhece que uma tecnologia dedicada à comunicação de máquinas, como a da Ingenu, é mais simples, não precisa de internet e tem menor custo. “Mas qualquer que seja a infraestrutura, vai precisar de torre, seja de celular, de transmissão de energia ou poste”, afirmou.

 

Fonte: Valor