Em Israel, jovens vão aos campos para garantir a colheita durante a pandemia

Levar jovens para colher toneladas de frutas e verduras é uma das soluções que uma ONG e o governo israelense estão colocando em prática a partir desta terça-feira (24) para lidar com a falta de mão de obra nos campos durante a pandemia de coronavírus.

Cerca de 4.000 jovens já se inscreveram para o programa, liderado pela ONG Nova Guarda com ajuda dos ministérios da Educação e da Agricultura, para ajudar pequenos e médios fazendeiros em 150 localidades do país.

O objetivo é substituir trabalhadores estrangeiros (barrados de entrar no país por causa da epidemia de Covid-19) por voluntários jovens, retirando-os de grandes cidades para tentar evitar a contaminação dos mais velhos. Os jovens, na maioria entre 16 a 30 anos, recebem a possibilidade de sair do isolamento –mesmo que monitorados o tempo todo para não haver aglomerações.

“Estamos com um déficit de pelo menos 5.000 trabalhadores, e a solução é utilizar força de trabalho jovem, que está em casa inutilizada por causa do isolamento social”, avalia Yoel Zilberman, fundador da ONG, que atua em prol de pequenos e médios agricultores.

Em Israel, só serviços vitais estão funcionando, e a maioria da população está em casa. O desemprego pulou de 4% para 18% desde o começo de março, com mais de 600 mil trabalhadores em férias não remuneradas ou demitidos. Escolas e universidades também estão fechadas, deixando milhões de estudantes sem atividades educativas.

“Em Israel, como em todo o mundo, os jovens são os mais saudáveis e estão sem fazer nada em casa. Eles querem ajudar, e nós precisamos deles”, diz Zilberman. “Como, apesar de sofrerem menos, eles podem infectar os mais velhos, é uma boa ideia também retirá-los dos grandes centros urbanos.”

Segundo Zilberman, 3.200 jovens se inscreveram para trabalhar nos campos através do site da Nova Guarda e mais de 700 por meio do aplicativo SunDo, criado para atrair voluntários para trabalhar em fazendas em troca de moradia, comida e a experiência de lidar com a terra.

O plano estipula que os jovens trabalhem em grupos de dez por apenas 14 dias. Eles farão a colheita de frutas e legumes com distância de dois a quatro metros entre eles. Não serão permitidas festas ou encontros sociais após o trabalho.

Os grupos serão hospedados em hotéis próximos às fazendas que estão com lotação mínima por causa da queda no turismo. A ONG arrecadou fundos para pagar a estadia e contará com apoio do governo.

O ministério da Educação deu permissão para que jovens com mais de 16 anos e que queiram ser voluntários possam viajar para as localidades. E a pasta da Saúde vai fiscalizar as regras de isolamento entre os grupos. Todas as manhãs, por exemplo, os jovens terão que passar por exames médicos para detectar febre ou outros sintomas da Covid-19. Eles não poderão deixar os hotéis a não ser para trabalhar nas lavouras.

O voluntariado deve ser mantido mesmo se as medidas de isolamento social se tornem ainda mais abrangentes. Há informações, também, de que o Exército irá ajudar cada vez mais a polícia a fazer valer as regras de confinamento, patrulhando as ruas para garantir que as pessoas só saiam de casa para comprar comida e medicamentos.

O ex-parlamentar Avshalom Abu Vilan, atual presidente do Associação de Fazendeiros de Israel, explica que a alocação de jovens para os campos vai além de resolver a colheita durante a pandemia e faz parte da identidade nacional. “Em Israel, a agricultura é considerada a base do país. É um valor nacional. E acredito que, do ponto de vista educacional, é uma experiência muito importante para os jovens.”

Além dos jovens, a ONG e o governo planejam alocar outras pessoas para os campos, principalmente por causa do aumento do desemprego. Segundo Yoel Zilberman, desempregados de 30 a 65 também estão buscando trabalho voluntário em fazendas, e é possível que sejam ainda empregados de alguma forma, de acordo com as regras de isolamento social vigente.

A falta de mão de obra se tornou crônica depois que, como a maioria dos países do mundo, Israel fechou portos e aeroportos para estrangeiros para tentar evitar a disseminação do novo coronavírus. Anualmente, 25 mil trabalhadores de países como Tailândia e China chegam a Israel para atuar no plantio e na colheita.

A maioria continua no país, mas pelo menos 5.000 voltaram para casa por causa da pandemia ou porque seus contratos de trabalho terminaram e não foram renovados.

Além disso, mesmo com o fechamento das fronteiras, cerca de 70 mil palestinos receberam visto para trabalhar em Israel – em áreas como agricultura, serviços e construção civil. Mas eles só podem trabalhar em Israel caso se comprometam a ficar 30 dias no país, sem voltar para casa.

Cerca de 50% deles, no entanto, preferiram ficar na Palestina por temor de que a crise do coronavírus dure muito tempo.