Liane Gotlib Zaidler para a Câmara Brasil Israel
Mais de um terço da água potável do planeta é perdido nos sistemas de distribuição de água, principalmente devido a vazamentos subterrâneos não detectados e a má administração. Shimon Constante, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Miya, e que está há quatro meses no Brasil, explica como é o trabalho desta empresa internacional que tem vasta experiência na implementação bem-sucedida de projetos de eficiência hídrica em todo o globo.
Qual o foco do trabalho da Miya e em quantos países ela está presente?
A Miya foi fundada em 2008 por Shari Arison, como parte da Arison Investimentos, tendo como visão assegurar a abundância de água potável através da gestão eficiente das perdas de água e otimizar seu abastecimento em cidades do mundo todo.
Presente na África do Sul, Bahamas, Jamaica, México, Colômbia, Manilla, Canadá e no Brasil, a Miya faz parcerias com operadoras de saneamento visando planejar e implementar soluções de suporte tecnológico de forma abrangente, o que melhora significativamente a eficácia operacional e financeira do cliente e diminui os riscos de contaminação da água e de danos à saúde, beneficiando as pessoas, a comunidade e o meio ambiente. As soluções fornecidas pela Miya englobam a auditoria do sistema de distribuição de água, planejamento completo de projeto, execução, manutenção e treinamento.
Desde quando ela atua no Brasil?
Em 2008 a Miya adquiriu uma empresa brasileira com 200 funcionários e expert em realizar a gestão eficiente de perdas de água em projetos conjuntos com a Sabesp. Há quatro meses vim trabalhar no Brasil, com a proposta de realizar projetos de grande escala, e de longo prazo, por meio de PPPs (parcerias público-privadas).
Vocês realizaram um projeto de redução de perda de água recentemente em Itapevi. No que consistiu e quais foram os resultados? E a parceria com a Sabesp? Como funciona?
Nos últimos quatro anos realizamos diversos projetos para a redução de perdas, como por exemplo a troca dos hidrômetros em Itapevi, com 100% de êxito. Também realizamos outro programa em parceria com a Sabesp estimulando o consumo responsável de água em 148 escolas públicas de São Paulo e através da adaptação dos banheiros destas escolas, conseguimos uma redução de perdas e do consumo de 50%. A Miya também tem iniciativas em favelas, estimulando o consumo responsável e a redução das conexões clandestinas.
Qual o caminho mais sustentável para reduzir a perda de água nas áreas urbanas?
Precisamos encontrar qual é o ponto econômico das perdas para determinar até onde se pode baixar a um custo–benefício positivo, realizando atividades de engenharia como a troca de tubos e de medidores, gestão da pressão e identificação de vazamentos não visíveis, entre outros. Tudo tem que ser feito de forma integral e com uma estratégia bem clara.
O que o Brasil pode aprender com Israel? Quais experiências que deram certo em Israel podem ser implementadas no país.
Em Israel, 100% da água é reciclada e não se perde uma gota de água. No Brasil, se recicla menos de 30%. São necessárias mudanças na cultura, com campanhas constantes de marketing e publicidade e também na regulamentação, punindo empresas que não tem bons indicadores de perda. Também é necessário haver um controle escalonado junto aos consumidores finais e a implementação de inteligência e tecnologia em redução de perdas em parceria com empresas privadas.
Existe uma solução para a crise hídrica no Brasil?
As soluções são a longo prazo, com o reuso e a eficiência.
Qual sua previsão com relação à crise no abastecimento de São Paulo? O que deve acontecer em 2015 se não chover? Teremos racionamento?
Acho que em 2015 haverá um plano de racionamento forte com a implementação de multas para o consumidor. Imagino que será feito algum projeto de reuso de água, mas que só deve começar a funcionar em 2016. Também serão realizadas muitas propostas de eficiência de água com empresas como a Miya. Se houver um acordo a nível federal, São Paulo poderá utilizar a água de outros Estados. Acho que a dessalinização, como é feita em Israel, será impossível, por conta do alto custo com transporte e energia.