Startups de Israel atingem, enfim, a maturidade

Cheia de viciados em tecnologia, hipsters (lançadores de moda) e advogados percorrendo as elegantes ruas construídas onde um século atrás não havia nada além de dunas, essa reluzente metrópole é considerada o segundo melhor lugar do mundo para as startups, perdendo apenas para o Vale do Silício, nos Estados Unidos.

Trata-se de um feito impressionante para um país menor do que o Estado americano de Nova Jersey, que conseguiu construir uma indústria de alta tecnologia desproporcional ao seu tamanho – ao mesmo tempo em que se defendia de numerosos inimigos.

O próprio estado perpétuo de alerta, o serviço militar compulsório que dá a muitos jovens de um a três anos adicionais de experiência na área e a importância relativamente pequena da hierarquia e das figuras de autoridade ajudaram a criar um dinâmico ecossistema tecnológico.

Mas, durante muitos anos, essas mesmas características receberam a culpa por terem impedido que Israel construísse uma gigante da tecnologia nos moldes da americana Intel. Isso porque sobrava audácia e faltava paciência aos empreendedores israelenses.

“Temos em Israel um problema de DNA, pois não conseguimos lidar com disciplina e hierarquia”, diz Yoav Chelouche, ex-diretor executivo convertido em investidor. “Isso cria dificuldades quando tentamos aumentar a escala das operações.”

No radar de gigantes. Faz tempo que empresas como Intel e IBM compram startups israelenses ainda em seus estágios iniciais, incorporando-as às suas operações com sede nos Estados Unidos. Mas, com o amadurecimento do ecossistema das startups israelenses, isso está mudando.

O Waze, o aplicativo para celulares que usa informações do GPS para reunir dados sobre o trânsito, esperou a chegada do melhor momento antes de aceitar este ano uma oferta do Google que chegaria a quase US$ 1 bilhão. Além da venda bilionária, os criadores da empresa insistiram que seus escritórios fossem mantidos em Israel.

De maneira semelhante, a empresa de segurança cibernética Trusteer chegou a amadurecer o bastante para aceitar uma oferta que chegaria a US$ 630 milhões. O valor foi oferecido no mês passado pela IBM, e agora deve ser incorporada ao novo laboratório de softwares de segurança cibernética da IBM em Bersheva, Israel.

E, nessa semana, ao comprar por um valor entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões a empresa Onavo, de análise de dados da rede celular, o Facebook anunciou que vai manter a empresa em Israel. Além disso, pretende transformar os escritórios da Onavo no primeiro centro de pesquisa e desenvolvimento da gigante das mídias sociais no exterior – seguindo o exemplo de Apple e Microsoft.

Fase madura. “Agora o talento está amadurecendo”, diz Zack Weisfeld, diretor sênior da Microsoft Ventures, uma iniciativa global com sede em Israel. “Acho que, em Israel, o número de empresas avaliadas em US$ 1 bilhão vai aumentar em relação ao passado.”

Ansiosa para se beneficiar das inovações em alta tecnologia ao redor do mundo – e receber das startups (mais dinâmicas do que a lenta evolução das multinacionais) um retorno a respeito de seus serviços e dispositivos -, a Microsoft Ventures começou com o lançamento de uma aceleradora em Israel em abril de 2012.

Desde então foram lançados aceleradoras em Bangalore (Índia), Pequim (China), Paris (França), uma instalação piloto em Londres (Reino Unido) e, no mês que vem, outro deve ser aberto em Berlim (Alemanha).

Recentemente, a Microsoft também inaugurou um empreendimento global de financiamento inicial. A informação de que a primeira startup a obter financiamento tenha sido a SkyGiraffe, nascida do laboratório da Microsoft Ventures em Israel, não veio como uma surpresa para ninguém.

Sistema de cotas. Apesar de ser um centro de inovação em alta tecnologia, Israel ainda tem espaço para crescer. O setor precisa preservar uma representação mínima nos negócios aos judeus ultraortodoxos e árabes israelenses – dois grupos que, juntos, correspondem a quase um terço da população do país.

Mas existem, no entanto, alguns esforços que tentam mudar esse quadro, como o KamaTech, um programa que colabora com 13 das maiores empresas israelenses de alta tecnologia no recrutamento e orientação de engenheiros ortodoxos.

Durante a recente conferência de inovação digital DLD realizada em Tel Aviv, Avi Hasson, do Ministério da Economia de Israel, disse receber visitas semanais de representantes de governos estrangeiros interessados em saber como imitar o sucesso israelense.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O Estado de S.Paulo – The Christian Science Monitor/Tel Aviv