Tel Aviv tem uma start-up a cada 431 moradores. Qual o segredo de Israel?

  • Ligia Gauri/UOL
    Em Tel Aviv há 971 start-ups, o equivalente a uma empresa para cada 431 habitantes

    Em Tel Aviv há 971 start-ups, o equivalente a uma empresa para cada 431 habitantes

Israel é um país marcado por conflitos religiosos e políticos, mas tem conseguido por meio da tecnologia chamar a atenção pela grande concentração de start-ups. O país, com cerca de 8 milhões de pessoas, tem 6.135 empresas de alta tecnologia que empregam 300 mil profissionais. Só de start-ups são 3.389 e quase 20 mil trabalhadores. Na capital, Tel Aviv, por exemplo, há uma start-up para cada 431 moradores.

O país alcançou o segundo lugar em quantidade de start-ups por habitantes, atrás somente dos Estados Unidos, de acordo com o Startup Genome.

“Estamos falando de um país muito pequeno, mas altamente tecnológico”, destaca Michel Hivert, diretor administrativo do Matimop, órgão vinculado ao Ministério da Economia. O setor de tecnologia responde por 40% das exportações de Israel. Entre 2010 e 2013, foram gerados cerca de US$ 3,3 bilhões em negócios –valor equivalente a 1% do Produto Nacional Bruto israelense.

As start-ups chamam a atenção do mercado nos últimos anos, desde que o Waze, foi comprado pelo Google em 2013 por US$ 1 bilhão. O ano de 2014 foi recorde para elas, foram 18 IPOs no valor de US$ 9,8 bilhões e 52 fusões e aquisições no valor de US$ 5 bilhões, segundo a PcW Israel.

Hoje, o país já ganha mais com ciber-segurança do que com exportação de armas.

Estímulo acadêmico

O índice de habitantes com alta escolaridade e a relação próxima das universidades com o mundo da inovação são apontados como razões para que a cidade histórica tenha se tornado polo tecnológico.

Cerca de 48,8% dos israelenses entre 35 e 44 anos têm ao menos ensino superior completo. Israel fica atrás apenas do Canadá e do Japão, segundo dados do IVC Research Center. Atualmente, de acordo com os dados do Ministério das Relações Exteriores do país, metade dos israelenses entre 20 e 24 anos está matriculada em alguma instituição de ensino superior.

Muitos israelenses já têm contato com o desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas de segurança de informações durante os anos de serviço militar obrigatório. E o estímulo continua no ambiente universitário.

A Universidade Hebraica de Jerusalém, por exemplo, tem uma empresa responsável pela comercialização das invenções e patentes produzidas por estudantes e pesquisadores da instituição, a Yissum, criada há 52 anos. Foi a primeira universidade no mundo a criar uma companhia com essa finalidade.

O Exelon, medicamento usado para inibir a progressão do Alzheimer em estágio inicial, é resultado da pesquisa da professora Marta Weinstock-Rosin, do departamento de Farmácia da Yissum, e desenvolvido pela Novartis. O remédio, em cápsulas ou adesivo, é o único aprovado pela FDA (Anvisa norte-americana) para tratar dessa doença e é comercializado no Brasil desde 2014. O retorno em royalties com o Exelon foi de US$ 1 bilhão até 2011.

O “novo Vale do Silício” atrai investidores de risco de diversos países e tem até empresas especializadas em captar esse tipo de recurso. A JVP (Jerusalem Venture Partner) é um exemplo. A companhia funciona como uma ponte entre as start-ups e os investidores, e já lucrou cerca de US$ 1,1 bilhão desde quando foi criada, em 1993.

Entre seus clientes, está a CyberArk, especializada em bloquear ataques hackers contra grandes empresas. Criada em 1999, foi responsável por uma das maiores ofertas públicas iniciais de ações em 2014 na Nasdaq. Em três dias na bolsa, seu valor subiu 85% e chegou a US$ 880 milhões. Atualmente a empresa vale US$ 2 bilhões.

*colaborou Eduardo Heering Bartoloni

** O UOL viajou a Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores

Veja alguns produtos tecnológicos criados no país

Divulgação/Sirin Labs
Divulgação/Sirin Labs

Proteção militar para celulares

O Solarin android é digno dos filmes do 007. Ao apertar um botão o aparelho é bloqueado com criptografia militar. Com isso, o usuário sabe que não será rastreado ao fazer chamadas, enviar mensagens texto, arquivos ou fotos, e usar a internet. É o que garante Tal Cohen, CEO e fundador da Sirin Labs. “É um dispositivo com o que temos de mais moderno”, explica o executivo. O preço para ter a privacidade é bem alto, o aparelho pode custar até US$ 17.000, cerca de R$ 59.000
Divulgação/SOSA
Divulgação/SOSA

Sistema de segurança

A GlobeKeeper é uma plataforma tática e operacional de segurança, que pode ser usada por policiais ou empresas privadas por meio de dispositivos móveis (celulares e iPads, por exemplo). A ferramenta garante a criptografia em dispositivos de comunicação, e ainda integra informações de câmeras, vídeo, GPS para que as informações possam ser usadas em operações específicas ou para o controle de segurança rotineiro
Reprodução/Rep’n UP
Reprodução/Rep'n UP

Limpeza da rede social

A Rep’n UP é uma start-up que pretende identificar posts, fotos ou comentários em redes sociais que possam prejudicar o usuário na hora de conseguir um emprego. Lior Tal, CEO e um dos fundadores da empresa, explica: “ajudamos a identificar possíveis problemas e a construir uma imagem confiável nessas plataformas”, diz Tal. É possível fazer um diagnóstico inicial gratuito no site da empresa (www.repnup.com)
Reprodução/Facetunes
Reprodução/Facetunes

Aplicativo de edição de selfies

Criado pela Lightricks, uma das start-ups da Yissum, o Facetunes é um aplicativo de edição de imagem, utilizado principalmente para fotos como selfies. Disponível para Android e iPhone, ele traz ferramentas que disfarçam imperfeições nas imagens. “Temos usuários em todo o mundo, mas a maioria é dos EUA, Alemanha e Reino Unido”, explica Zeev Farbman, CEO da empresa
Ligia Gauri/UOL
Ligia Gauri/UOL

Círculo do karaokê

O Fusic é um aplicativo que funciona como uma rede social de karaokê. Nela é possível criar vídeos e participar de clipes dos artistas que estão disponíveis na ferramenta. “Pretendemos lançar outros aplicativos parecidos sobre filmes, esportes e notícias”, diz Liat Sade-Sternberg, CEO da The Bridge. O aplicativo tem cerca de 20 milhões de acessos e os usuários gastam uma média de 16 minutos nele por dia